Grafite não tem idade

Grafite não tem idade

O objetivo é muito claro: quebrar paradigmas e qualquer forma de etarismo ou idadismo (preconceito e discriminação contra pessoas idosas). Foi essa a inspiração da dupla de grafiteiros e muralistas do Rio de Janeiro, Leo Shun e Lorena Crist, artistas com mais de 20 anos de experiência na arte urbana, ao criarem o projeto “Grafite não tem idade”, voltado para mulheres 60+. O resultado dessa sensível intervenção pode ser visto no mural produzido para o evento “Festival Sesc Mais Vida- Temporada das Flores”, exposto na unidade do Sesc Nogueira, em Petrópolis (RJ).

Quem deu cor, brilho e emoção ao painel com a reflexão “Amadurecer é florescer a semente da alma” foi um grupo de mulheres com mais de 60 anos, que com muita energia e disposição não hesitaram em manipular os tubos de spray para dar vida ao mural de 5m x 2,80m. A obra grafitada destaca a natureza, com suas flores, folhas, borboletas e uma silhueta feminina soprando em suas mãos um coração pulsante, numa perfeita analogia entre o desabrochar das flores, da vida e, principalmente, o florescer da maturidade.

Grafitando sob a orientacao do artista 1 papo reto 1Grafitando sob a orientação do artista Para Lorena Crist, que também é pedagoga e jornalista “o grafite tem uma função pedagógica interessante para o público 60+, pois além de todo o processo do fazer artístico ser divertido, não é só uma arte feita nos muros. A arte urbana vai além do que se imagina, ela penetra em camadas profundas das áreas emocional, física e cognitiva que nem sempre estão visíveis aos olhos”, diz. E exemplifica: “A parte criativa de elaboração do mural, a reflexão sobre a mensagem incutida na arte, a gestualidade ao apertar o birro e manusear as latas de spray, o contato com a expressividade artística, a mobilidade física durante a pintura, a interação social com quem passa pelo entorno, o senso de equipe com os colegas que participam da pintura e sua utilidade, tudo isso molda o universo que circunda essa arte”, complementa Lorena.

O seu parceiro Leo Shun, também dá o recado: “A arte tem um papel muito importante na construção de uma identidade saudável em qualquer fase da vida. No entanto, para pessoas maduras, ela se torna um espaço de redescoberta e valorização. Com isso o mural colaborativo reflete a visão dos artistas sobre o poder do grafite em criar ambientes inclusivos, que promovem a autoestima e celebram o envelhecimento ativo”.   

O grafite contra o idadismo

O grafite é uma arte urbana - na maioria das vezes feita nos muros da cidade- que vem ganhando a admiração de pessoas de todas as idades. Seu potencial de alcance é amplificado, pois, por ser uma arte de rua, geralmente é feita onde há uma grande circulação de pessoas. Em todas as suas características, o que se destaca é a junção da beleza dos traços típicos da tinta spray e o aspecto multicolorido que naturalmente vibra e atrai olhares amistosos.

O projeto “Grafite não tem idade” valoriza o empoderamento das mulheres com mais de sessenta anos, dando voz a esse público que no dia a dia ainda convive com o preconceito e a negligência. Na opinião dos artistas, a obra coletiva não é apenas uma expressão artística, mas também um ato de resistência contra o etarismo.

Esta não é a primeira vez que a dupla de grafiteiros conduz esse tipo de manifestação artística e cultural junto às mulheres 60+. No final do ano passado, o mesmo Sesc Nogueira, durante a realização de um de seus eventos recreativos, apresentou ao público o mural homenageando Rita Lee, retratando a irreverência e a originalidade da cantora que nos deixou em 2023.

Para conhecer os trabalhos dos artistas, acesse @lorenacristoficial e @shungraf

Crédito das Fotos: Lorena Crist

Angélica Soller

Autor: Angélica Soller

Sobre o/a Autor(a) Angélica Soller é jornalista e relações públicas, proprietária da Angélica Soller Comunicação. Escreve sobre assuntos relacionados à longevidade saudável, empreendedorismo sustentável e “cases” de superação que sirvam de exemplo para transformar e fazer a diferença


Últimos artigos: