A definição self made man ficou meio batida pelo excesso de utilização. Contudo, continua válida se aplicada de forma, digamos, acurada e quando o personagem em questão vai além do básico que é seguir por uma trajetória empreendedora partindo do nada ou de muito pouco. Pois é exatamente nessa categoria que podemos enquadrar o paulistano Sidney Saad Angulo. Graduado em engenharia civil, ele fez carreira na área têxtil, mas encontrou sua verdadeira vocação no setor imobiliário, segmento no qual começou a investir no final da década de 1980.
Até aí, a história é muito semelhante à de muitos construtores e incorporadores pelo Brasil afora. Ocorre que Sidney, como prefere ser chamado, nunca quis ser apenas mais um na multidão. Tanto isso é verdade que ele pretende converter o Complexo Empresarial E-business Park, situado no bairro da Lapa de Baixo, na zona Oeste de São Paulo, em uma espécie de cidade sustentável. Para isso, vem intensificando os atributos verdes do empreendimento adquirido em 2004 e que ocupa uma área de 166mil m², equivalente a cerca de 22 campos de futebol, onde outrora funcionou uma das maiores fábricas da gigante alemã Siemens.
Desde então, foram investidos meio bilhão de reais em obras de adaptação das edificações (retrofit) e na construção de prédios. “Aqui foram fabricadas as turbinas da Usina Hidrelétrica de Itaipu”, diz, com uma ponta de orgulho. “Agora, queremos que este terreno assuma a liderança de projetos corporativos inovadores em São Paulo e no Brasil.” Hoje, o Complexo abriga a área de serviços de 30 empresas nacionais e multinacionais, com destaque para Lenovo, Nokia, EDP, GE, Henkel, Teleperformance e os estúdios da Maurício de Sousa Produções.
Jardim interno do E-business conta com três mil árvores
Entre galpões, edifícios, lojas, restaurantes e espaços de convivência ao ar livre circulam diariamente cerca de 10 mil pessoas, em uma atmosfera que remete à de uma cidade do interior. Aliás, segundo o IBGE, 45% dos municípios brasileiros contam com uma população abaixo deste patamar! O clima bucólico é garantido pelas inúmeras áreas verdes – são mais de 3 mil árvores espalhadas por uma área de 30 mil m² – e os “espaços de descompressão”, nos quais é possível contemplar obras de arte, como esculturas e painéis com grafites.
A inspiração vem das viagens por cidades brasileiras e do exterior, nas quais o empresário coleta exemplos exitosos de integração do mundo corporativo ao meio ambiente, como forma de fomentar a inovação e a criatividade. Três delas foram mais marcantes: a visita ao Campus da Nike, em Beaverton (Oregon-EUA), à sede da Siemens, em Erlangen (Alemanha), e ao Centro de Arte Contemporânea Inhotim, em Brumadinho (MG). Desse último, ele trouxe a ideia de espalhar esculturas pelo terreno. Para ajudar na seleção das 30 obras que serão adquiridas até o final de 2025, Sidney está contratando um curador.
Hoje, a parte artística já conta com o Mônica Parade, na Praça Central, e um gigantesco painel, de 70mx10m, assinado pelo grafiteiro Kobra. Tão ambiciosa quanto a vertente cultural é o compromisso ambiental. Isso porque, o empresário pretende ir além da neutralização das emissões de carbono, tornando a “cidade” uma emissora de oxigênio. O que será feito a partir de diversas iniciativas, como o investimento maciço em geração de energia solar.
Mural de Kobra / Foto: Ricardo Cyrillo
O projeto, lançado no ano passado, está previsto para ser concluído em 2030, ao custo de R$ 25 milhões e que irá ocupar uma área de 30 mil m² de telhado. A meta é zerar a dependência de energia vinda de fora, estimada em 20 MW. “Cada metro quadrado de placa solar tem potencial dez vezes maior que o resgate realizado pela mesma dimensão de floresta”, diz. Atualmente, o consumo energético do Complexo já provém integralmente de fontes renováveis (usinas hidrelétricas, eólicas, solar e biomassa).
Outro passo igualmente importante foi dado em relação à água. Por se tratar de um terreno que outrora era a várzea do rio Tietê, o cuidado com a drenagem é uma preocupação constante. Aliás, essa foi a primeira ação ambiental realizada desde a implantação do empreendimento, cujo terreno passou por um grande processo de descontaminação. Para manter o escoamento contínuo da água da chuva, a área permeável foi ampliada de 17% para 37%. “O asfalto deu lugar ao bloquete e ao piso de terra”, explica. “Assim, conseguimos fazer escoar a água e garantir a umidade do solo, o que faz bem à vegetação e ajuda a regular a temperatura ambiente.”
A fábrica da Siemens na década de 1950
Mais. A água da chuva e das torneiras é captada e tratada em um sistema de reuso que garante nível elevado de pureza. O objetivo é que a “cidade sustentável” se torne um ponto de educação ambiental e artística para estudantes das escolas públicas e privadas da região. Outra ambição do empresário é posicionar o Complexo como um hub de iniciativas focadas na diversidade e inclusão, a partir da abertura do espaço para feiras maker, exposições e palestras. “Fazer coisas bacanas na avenida Faria Lima é muito fácil. Quero ver investir aqui, em uma das regiões mais carentes da zona Oeste, ao lado de uma comunidade e de uma linha de trem”, destaca.
Apesar da visão altruísta, que inclui o cumprimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU (ODS) antes do prazo estipulado de 2030, Sidney enxerga o Complexo como um negócio. Aliás, um grande negócio. A intensificação dos atributos sustentáveis foi a forma encontrada por ele para eliminar a vacância dos espaços, hoje em 20%. A meta é atrair as empresas que tenham compromissos socioambientais semelhantes à do filho de funcionários públicos, que comprou o primeiro terreno na abandonada Lapa, na década de 1980.
