Receita para acabar com o desperdício: inteligência!

Receita para acabar com o desperdício: inteligência!

“Empreender é como andar em uma montanha russa. Nunca sabemos se estamos subindo ou descendo”, a frase atribuída ao engenheiro mecânico Sérgio Kulikovsky, 56 anos, o primeiro brasileiro a se tornar multimilionário com a internet, é repetida como uma espécie de mantra pelo paulistano Marco Perlman, 50 anos. Apesar de serem contemporâneos, Marco sempre enxergou Sérgio como uma espécie de mentor. E foi seguindo seus passos que ele se tornou um empreendedor em série, comandando inúmeros negócios, fomentando a cultura da inovação e atuando como investidor-anjo. Sua maior tacada foi a Digipix, criada em 2004 para atuar no segmento de impressão de fotografias de forma customizada. Contudo, ao longo dessa jornada ele foi se dando conta de que teria de adicionar um componente de propósito aos negócios. Foi a partir dessa reflexão que surgiu a Aravita.

Aberta formalmente em setembro de 2022, a startup nasceu com a ambição de ajudar a combater as perdas de alimentos frescos no varejo. Um problema e tanto, especialmente em um país como o Brasil no qual 64 milhões de pessoas têm acesso restrito à alimentação. Porém, tão ruim quanto a questão social é a vertente econômica, pois o desperdício gera prejuízo anual estimado em R$ 61,3 bilhões, de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). “Trata-se de um problema moralmente inaceitável e que precisa ser encarado com urgência”, destaca o empreendedor.

Marco Perlman aravita socios 1 papo retoMarco (ao centro) com os sócios Aline e Bruno

A solução desenvolvida por Marco e seus dois sócios: Aline Neves de Azevedo e Bruno Schrappe, tem como base o uso de Inteligência Artificial preditiva na gestão de compras e do estoque. O primeiro cliente é a rede varejista St Marche (que controla a marca Empório Santa Maria e possui operações em São Paulo, Campinas e Santos) e os resultados, até agora, indicam que existe um grande potencial na tecnologia desenvolvida pela Aravita. “Conseguimos que este cliente tivesse uma redução de 20% nas perdas e 30% no processo de ruptura (quando existe demanda, mas não estoque)”, destaca. Não se trata, aqui, de meramente reduzir o volume de compras, mas sim fazê-lo a partir de mecanismos que garantam o melhor mix de produtos dentro da previsibilidade de venda.

O empreendedor ressalta que não se pode usar este número como parâmetro para todos demais contratos, uma vez que a cadeia de alimentos frescos é bastante extensa e cada varejista possui um portfólio específico. Na rede St Marche, por exemplo, o processo a cargo da Aravita envolve mil SKUs (código que identifica cada produto), totalizando 80% das decisões de compra. Apesar disso, Marco celebra o bom desempenho da ferramenta, que já nasceu sob a bênção de investidores brasileiros e estrangeiros. A lista incluí a americana Qualcomm, do segmento de telecomunicação, além de fundos (17 Sigma, BigBeats, Alexia Ventures, DGF Investimentos e Norte Capital) e investidores anjos.

tabela Aravita 1 papo reto

 

Com eles, Marco capitou R$ 12 milhões para desenvolver o negócio, que começou a ser pensado durante a pandemia de Covid-19. “Passei a trabalhar em casa e percebi que a Digipix já não dependia da minha presença no dia a dia”, conta. “Foi aí que comecei a pensar em novos negócios nos quais poderia fazer a diferença usando tecnologias nascentes, como a inteligência artificial.” Apesar do estágio inicial, o fundador da Aravita acredita que seu aplicativo poderá ganhar o mundo. “A questão do desperdício é global. Mas, por enquanto, vamos focar nossas atenções no Brasil”, destaca.